Seja para abastecimento, irrigação ou banhar-se nos dias quentes de verão. As barragens da metade sul do estado têm diversas finalidades e todas devem ter a mesma fiscalização para evitar riscos. Porém, segundo relatório divulgado pela Agência Nacional de Águas (ANA), em novembro do ano passado - aprofundado no último dia 29 -, a segurança não é realidade em cerca de 50 barragens da região.
Desse número, a maioria não tem classificação de risco, categoria referente aos aspectos da represa que possam influenciar na probabilidade de um acidente. Entretanto, todas possuem Dano Potencial Associado (DPA) alto, ou seja, as consequências de possível rompimento, vazamento, infiltração no solo ou mau funcionamento de uma barragem seriam grandes.
Conforme o secretário de Meio Ambiente e Infraestrutura, Artur Lemos, os dados disponibilizados pela ANA são repassados pelo Estado, que desde 2017 estão dando atenção para a situação apresentada. “O RS tem uma riqueza hidrológica ímpar no país. Nós vamos trabalhar agora para fazer uma reclassificação delas, pois no relatório consta não só barragens, mas também açudes de irrigação”, comenta.
“Nosso maior foco é a barragem Santa Bárbara, que abastece Pelotas, e também merece essa atenção por estar próxima ao município. Desde 2017, já vem ocorrendo intervenções e visitas do Departamento de Recursos Hídricos, dando algumas sugestões de melhorias que poderiam ser feitas, e o Serviço Autônomo de Abastecimento de Água de Pelotas (Sanep), informava quais melhorias já haviam sido feitas. Como o relatório é de 2017, esperamos um novo para saber se a barragem ainda é de risco”, relata o secretário.
De acordo com o responsável pela pasta, 95% das represas do estado são de água e não há de rejeitos, como as protagonistas de Mariana e Brumadinho, cidades de Minas Gerais que sofrem as consequências de rompimentos desde 2015 e há duas semanas, respectivamente. “As chances de acontecer a mesma situação é nula, mas isso não quer dizer que não temos que fazer a fiscalização, pois caso acontecesse um acidente, haveria dano ambiental, social, econômico e riscos de vida igual”, destaca.
“No mês de fevereiro, nós vamos lançar um plano de ação emergencial, para fazer um enfrentamento mais imediato nas barragens, vamos apresentar para a população, e depois um plano de médio e longo prazo para que a fiscalização seja perene”, explica Lemos.
Sobre a barragem Santa Bárbara, que há 50 anos abastece cerca de 60% da população pelotense, o diretor-presidente do Sanep, Alexandre Garcia, garante que todas as medidas estão sendo realizadas para evitar qualquer tipo de desastre, que inundaria bairros e sub-bairros como Fragata, Colina do Sol, Padre Réus, Farroupilha e Castilho. “Em 2017, participamos de um curso de segurança de barragens, realizado na Santa Bárbara, sendo indicadas possíveis melhorias”, conta.
“Comentaram questões como desobstrução de drenos, retirada de vegetação, recomposição das paredes do canal rápido, impermeabilização do vertedor e outras medidas que foram nos solicitadas ali. Todas elas já foram executadas”, garante.
Há 15 dias foram instalados 20 piezômetros (aparelhos que medem quantidade e pressão de água infiltrada), para indicar os próximos passos de segurança. O laudo da primeira leitura sairá no próximo mês. Atualmente, a Santa Bárbara opera com capacidade máxima, de 10 bilhões de litros e é captado cerca de 72 milhões de litros por dia.
Comporta inoperante
Outro problema indicado no relatório é o fato da comporta da barragem estar inoperante. Garcia comenta que por nunca ter sido mexida, a retirada é possível, todavia, não há garantias que hoje ela consiga voltar para o lugar. “Situação que compromete o armazenamento de água e, consequentemente, o abastecimento do município. Mas, caso haja necessidade, nós facilmente retiramos ela”.
Conforme o conselheiro do Conselho Nacional de Recursos Hídricos e coordenador regional do Instituto Rio Grandense de Arroz (Irga) Fronteira Oeste, Ivo Mello, desde o desastre de Mariana, foi iniciada capacitações técnicas pelo estado. “Com as vistorias das barragens, visamos checar situações de risco e a elaboração de planos de contingência”, reitera.
Em Pelotas, além da Santa Bárbara, outras 10 barragens são prioridades de fiscalização do governo estadual. Em outros municípios, como Arroio Grande, também são 11 represas apontadas, dentre elas, a Chasqueiro. A reportagem entrou em contato com a Cooperativa dos Proprietários do Distrito de Irrigação da Barragem do Arroio Chasqueiro Ltda. (Coodic), porém não teve retorno até o fechamento desta edição.
São Lourenço do Sul é o município com mais barragens prioritárias: o último relatório apontou 15, todas de propriedades privadas.
Confira a lista dos municípios da região presentes no relatório:
Arroio Grande: 11
Capão do Leão: 5
Jaguarão: 4
Pedro Osório: 1
Pelotas: 11
Piratini: 1
São Lourenço do Sul: 15
Turuçu: 1
Fonte: http://www.jornaltradicao.com.br/site/content/variedades/index.php?noticia=30342