As escolas de samba do grupo especial voltaram a competir pelo título no carnaval de Pelotas. A Academia do Samba, a Unidos do Fragata e a General Telles abrilhantaram a madrugada de domingo (10), levantando o público que acompanhou de perto os desfiles, e mostrando que a idade, a raça, o sexo e nem mesmo as deficiências são empecilhos para celebrar com alegria.
A primeira a adentrar a Passarela do Samba, próximo às 2h, foi a Unidos do Fragata. Com o tema “Somos ratos, morcegos e baratas… E esta noite a cidade é nossa!”, a escola fundada em 1991 pediu mais respeito e tolerância, e o fim do preconceito e da ‘sombra’ – personagem central da apresentação.
Representando isso e muito mais, um dos destaques ficou por conta da ala “Festa da Inclusão”, formada por jovens com Síndrome de Down que integram a Associação de Pais de Down de Pelotas (Apadpel), e seus familiares. A entidade do Fragata celebrou suas origens, estampada com orgulhos nos rosto dos foliões.
Logo após, a Academia do Samba desfilou pela Passarela. Criada em fevereiro de 1949, a entidade completou sete décadas de existência em 2019, história que virou samba-enredo da azul e branco: “Do passado germina a semente do futuro. Academia 70 anos de glória e paixão, respeite a cartola do meu pavilhão”.
Diferentes gerações dançaram lado a lado, mostrando que o carnaval é uma tradição passada entre as famílias. Durante a noite, o primeiro casal de mestre sala e porta bandeira de Pelotas retornou à avenida, Claudio Goulart e Odete Rosa. A cadeira de rodas utilizada por Goulart, que poderia ser um empecilho, se tornou um elemento a mais na festa de cores, luzes e sons.
Por fim, a última a ingressar na Passarela do Samba foi a General Telles, que decidiu celebrar as incertezas da vida. Parte dos festejos pelotenses desde 1950, a escola desfilou com a temática “Façam suas apostas, a sorte foi lançada”.
Os diferentes jogos guiaram a apresentação, desde os de azar até as modalidades olímpicas. Peças de xadrez, jogo do bicho e tarô se tornaram objetos vivos na representação dos artistas; os naipes dos baralhos também, com as rainhas encarnadas por uma corte inteiramente LGBTQ+.
EVOLUÇÃO
O desfile do grupo especial foi acompanhado pela prefeita Paula Mascarenhas, o vice Idemar Barz, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, secretários municipais e representantes do legislativo. Em 2019, a Prefeitura é uma das apoiadoras do evento, garantindo a segurança e a sinalização do trânsito; a cidade também disponibilizou o recurso necessário para o pagamento do chamado ‘Cachê Artístico’, entregue à Associação das Entidades Carnavalescas de Pelotas (Assecap), responsável pela organização da festa, junto à produtora Bah! Entretenimento.
“A segunda noite foi especial, pois todos estavam na expectativa do retorno das escolas do grupo especial. A competição mexe com a paixão das pessoas, o que, com certeza, vai ajudar na reconstrução do carnaval”, comentou Paula.
Apesar de já ter desfilado pela Academia do Samba em edições anteriores, a prefeita afirmou não ter uma escola favorita no concurso deste ano. “Torço por todas elas. Torço pelo carnaval de Pelotas”, disse.
O carnaval do município começou a passar por mudanças a partir da gestão de Leite, ex-prefeito e hoje governador. Em seu mandato foram rediscutidos os investimentos do Poder Público na festa, de forma a torná-la mais sustentável e atender a demandas da comunidade.
“Sempre ressaltei que o carnaval como manifestação cultural e popular era independente do aporte de recursos públicos, que ele não iria morrer pela falta de recursos da Prefeitura. Aqui está se observando a confirmação disso. O carnaval acontece porque a sociedade gosta, deseja, quer participar”, avaliou o governador.
ORGANIZAÇÃO
A mudança no jeito de olhar a folia começou quando a Associação das Entidades Carnavalescas de Pelotas (Assecap) ganhou mais espaço na organização, uma vez que tem o conhecimento das reais necessidades. A parceria com a Prefeitura iniciou na realização conjunta, explia o secretário e Cultura Giorgio Ronna; depois passou-se a execução para a Assecap, como a Administração Municipal dando suporte como apoiadora.
“A gente vive num momento de crise financeira no país, de limitação de recursos para todas as áreas, e mesmo assim se manteve a subvenção às unidades carnavalescas. A Prefeitura, por meio de todas as secretarias, dá um suporte e está junto também com a produtora, nessa parceria para a revitalização do carnaval”, garantiu o secretário.
O novo modelo proporcionou que a Assecap pudesse investir o recurso repassado pela Prefeitura diretamente nas entidades carnavalescas. A torcida agora é para que o carnaval cresça e volte a ser aquele de 40 anos atrás, quando a festa de Pelotas foi a terceira maior do país, espera o presidente da Assecap, Roberto Nunes.
APURAÇÃO
A apuração, que apresentará os vencedores do carnaval, deve ocorrer na noite de segunda-feira (11). Cada quesito será avaliado por dois jurados, que circularam ao longo da Passarela do Samba.
Para as escolas de samba, os quesitos são os seguintes: Comissão de Frente, Mestre Sala e Porta Bandeira, Tema-enredo, Samba–enredo, Bateria, Fantasia e Destaques, Alegorias e Adereços, Evolução, e Harmonia Geral. Quanto às bandas carnavalescas, a avaliação se dará em relação à Bateria, Harmonia Musical, Conjunto Visual e Animação. A Harmonia, neste caso, refere-se exclusivamente ao carro de som, considerando-se o entrosamento dos músicos com o ritmo da Bateria.
Fonte: http://diariodamanhapelotas.com.br/site/escolas-do-grupo-especial-voltam-a-encantar-no-carnaval-pelotense/