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HIP HOP - VOZ À MULHER NO RAP - MINAS NO ALTO

Filha do compositor popular “Odibar”, Bartira “BART” Marques lançou nova música nesta semana

Por Carlos Cogoy

 Pingos de Amor é sucesso popular, que teve gravações de Kid Abelha e Papas da Língua. Mas, as composições também têm na lista de intérpretes, destaques como Jorge Aragão, Clara Nunes e “Molejo”. O talentoso compositor popular “Odibar”, que residiu em Pelotas, criou músicas que conquistaram o grande público. Contudo, ao falecer em 2010, permanecia praticamente anônimo, sem o devido reconhecimento. Sobre a filha, ainda pequena, dizia à esposa que “tinha dedos de pianista”. E, aos onze anos, ela teve aulas de piano. Paralelamente também foi descobrindo que herdara o talento paterno, ou seja, a criatividade para escrever versos. E, nesta semana, ela lançou nova música. A filha, pelotense Bartira “BART” Val Marques, divuga o Rap “Minas no Alto”, postado ontem no Facebook e Youtube. Com experiência na fotografia, BART estuda jornalismo na UFPel, e idealizou a produtora cultural Stay Black.

Voz à mulher no Rap “Minas no Alto”

MULHER – Sobre o Rap “Minas no Alto”, Bart menciona: “Vídeo está postado desde as 20h de ontem. Escolhi o aniversário da minha mãe, a maior alpinista que conheci até hoje. A intenção com o video foi unir pessoas que admiro, e que são minhas amigas. A música ‘Minas no Alto’ é um ‘freeverse’, que é quando você rima em um beat de um som que já existe. Nesse caso o som é ‘Smile’ do Isaiah Rashad, uma música que eu gosto muito. O refrão diz ‘homens são montanhas, mulheres são alpinistas’. Eu tento meditar sempre que possível, e fico nervosa ou ansiosa, no esforço para colocar as ideias no lugar. O processo é entender a si, para conseguir entender o outro. Daí, vi que nesse mundo normativo, as mulheres se esforçam muito para entender os homens. É preciso dar uma explicação acerca do porquê exigem tanto da gente, e por que estão sempre sentados em pedestais no alto das montanhas. Já nós precisamos batalhar tanto pra chegar no topo delas. Depois que escrevi essa música, fiz meu mapa astral. E soube que tenho o sol, com ascendente em capricórnio, o que fazia com que eu tivesse as características da cabra que escala montanhas. Nesse momento parecia que o portal do sentido se abria pra mim. Então senti que precisava largar o som. O EP sai em breve, o nome é ‘Astral’, e as músicas têm essa vibe.  Além disso, me preocupo muito com espiritualidade, e sou identificada com alguns misticismos. Nas músicas, tento passar isso, bem como as questões sociais”.

SOM – Sobre as influências, ela menciona: “Eu admiro uma galera das antigas do Rap nacional. Mas a música brasileira, pra mim, sempre veio em segundo plano. Eu sempre ouvi mais músicas em inglês porque eu gostava de aprender as letras e cantar todas, Erykah Badu, Lauryn Hill, Queen Latifah. Gostava do Black Eyed Peas, do Eminem, Pharcyde, Dr Dre, Snoop Dogg, foram as primeiras coisas que eu ouvi, daí pra trás eu só fui conhecer mais atualmente. Hoje ouço mais, as meninas do ‘Rimas e Melodias’ por exemplo, ‘BrisaFlow’ que é uma amiga, e esteve em Pelotas”. Entre as apresentações, BART menciona a Casa Cultural Las Vulvas, oficinas em escolas no Balneário dos Prazeres e Loteamento Dunas. Também cantou no “Rizoma” do Dia do Patrimônio. Em São Paulo, participou de evento com a MC “BrisaFlow”.

Pelotense Bartira “Bart” Val Marques divulga lançamento de vídeo

A superação do preconceito

Entre nove e dezessete anos, Bartira residiu em Piratini. Voltando para Pelotas, passou a morar no bairro Fragata

Ela recorda sobre a vivência no interior: “Eu sempre escrevi, e lembro que, em 2005, fiz umas rimas sobre Piratini. Falava sobre as pessoas que me faziam sentir mal. Naquela época eu não percebia a opressão ou o racismo, e escrevia apenas para me sentir melhor, porque aqui, em Pelotas, eu me sentia melhor. Não sei se, por ser minha cidade natal, ou por passar por menos situações que me deixavam infeliz. Hoje eu enxergo com clareza que, o que me incomodava, era a falta de liberdade numa cidade com vinte mil habitantes. Eu amava muitas pessoas lá, porque fui criada lá e não percebia coisas encrustadas, já que era a vivência que tinha. Mas, ao mesmo tempo que as opressões soavam naturais, eu sempre tive a pulga atrás da orelha de que não precisava passar por aquilo. Sempre quis ser diferente, já que não me sentia bonita o suficiente, ou não tinha dinheiro o suficiente”.

FOTOGRAFIA – A compositora e ativista cultural acrescenta: “Aprendi a fotografar aos dezessete anos. Durante bom tempo, trabalhei como fotográfa. Nos festivais, levava a câmera, e tirava foto de tudo. Ainda fotografo, mas não profissionalmente. Atualmente trabalho com produção cultural, propondo rodas de conversa, palestras, que abordam questões raciais e feministas.

Espontaneidade do abraço na periferia

 Entre os projetos de Bartira “BART”, a perspectiva de retorno a São Paulo. Na estada no centro do País, ela constatou o quanto é forte a imagem do gaúcho machista e racista.

compositora avalia: “Quando fui para o Rio de Janeiro e São Paulo, percebi uma grande diferença. E notei que, por mais que exista racismo nesses lugares, aqui no sul você se sente como se vivesse algumas décadas atrás. E observo que, em Piratini, primeira capital farroupilha, ainda não ouvi nenhum MC de lá, homem ou mulher. Porém, diante desse cenário, me alegra que, cada vez mais, as mulheres têm se expressado de muitas formas, e não só através do Rap. Então precisamos seguir trabalhando para levar informação. Muitas mulheres ainda têm medo. Há mulheres morrendo por dizer não. É bem delicado. Mas, quando estou na periferia, isso me deixa muito feliz. Amo as crianças, que espontaneamente oferecem um abraço. Muda o dia e sinto a necessidade de voltar. Se não retornar, a sensação é de trabalho inacabado. A semente é plantada, mas é preciso regar, cuidar”.

PAI – Como projeto ao Procultura, BART planeja produzir um documentário sobre a história de “Odibar”, abordando acerca de compositores que escrevem, fazem sucesso, mas não são conhecidos.

Fonte: http://diariodamanhapelotas.co