“O que motivou a suspeita dos profissionais que não foi apenas a negatividade constante, mas como esses laudos eram repetitivos e pareciam padronizados, além da ausência de outras células e outros elementos nos resultados”, declarou a ginecologista Maria Laura Silveira que ontem depôs na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara Municipal que investiga denúncias de possíveis erros nos resultados de exames de pré-câncer de colo do útero.
Além da médica os vereadores ouviram ainda o gerente distrital da Saúde, Cícero Nunes e as enfermeiras Aline Geppert que atua como coordenadora da Rede Bem Cuidar e Francine Andrade que integra a equipe responsável pela elaboração do memorando sobre o caso encaminhado à Secretaria Municipal de Saúde no ano passado.
A médica confirmou ter sido a partir de 2014 que a equipe passou a perceber a repetição de termos nos laudos das pacientes da UBS Bom Jesus e que os livros de registro da unidade podem comprovar isso. Em 2015 o caso da paciente Ieda Ávila chamou atenção especial pois após cumprir corretamente o calendário recomendado pelo Ministério da Saúde para realização do pré-câncer e com resultados dos exames citopatológicos “negativos para malignidade” apresentou lesões características de câncer de colo do útero e depois de submetida a novos exames no Centro de Especialidades e com outro laboratório foi diagnosticada com a doença.
“O caso dela representou um alerta de que poderia estar acontecendo algo errado, porque não poderia ter um exame normal e outro totalmente alterado, como aconteceu”, disse.
SECRETARIA FOI AVISADA EM 2016 – O Departamento de Saúde da Mulher da Secretaria Municipal de Saúde foi informado sobre as suspeitas de erros nos exames ainda em 2016, ou seja, um ano antes do memorando ser encaminhado pela equipe da UBS Bom Jesus para a secretária Ana Costa. A revelação foi feita pela enfermeira Aline Geppert responsável pelo processo de instalação da Rede Bem Cuidar da qual a unidade faz parte. “No início de 2016 a equipe da UBS Bom Jesus pediu para eu levar um documento para a Saúde da Mulher sobre uma desconfiança deles com relação aos exames”, informou.
A enfermeira, no entanto, disse não lembrar quem lhe entregou o documento – que não soube dizer se era um ofício, uma carta ou um memorando – nem para quem entregou. “Em outro momento ao retornar ao setor e questionar sobre o documento disseram que estavam monitorando”, declarou. Mas novamente a enfermeira não soube identificar com quem tratou do assunto.
RESPOSTAS ESTÃO NAS ATAS – O presidente da CPI, vereador Marcos Ferreira, o Marcola (PT) informou que os membros da comissão devem fazer uma reunião com os representantes do Ministério Público para retirar cópias das atas das reuniões da UBS Bom Jesus. O objetivo é confirmar datas e presenças das reuniões nas quais as suspeitas sobre os exames foram tratadas. “Queremos saber exatamente quem estava nestes encontros e quando aconteceram, isso é fundamental para podermos montar a cronologia dos fatos”, disse o vereador.
Na próxima reunião da comissão marcada para a semana que vem serão ouvidos o médico Túlio Rezende da UBS Simões Lopes autor de um estudo sobre detecção precoce de câncer de colo de útero e a diretora do Centro de Especialidades, Daiane Silveira Bonet.
